quinta-feira, 31 de julho de 2008

Existem mulheres filósofas?
Quando falamos de filosofia logo pensamos em Sócrates ou Platão, mas quando alguém pergunta sobre Hildegarda de Bingen ou Christine de Pisan, o que você responderia? Algumas pessoas podem pensar que foram Doutoras ou qualquer outra coisa, porém ninguém pensaria que foram filósofas.
Conheça a baixo a vida e obra de algumas filósofas.
Antigüidade Greco-Helênica (Séc. VII - IV)
Introdução:
Desde o alvorecer da filosofia, quando a racionalidade começa a desenvolver-se e distinguir-se das formas mítico-poética e descobre as formas demonstrativas e argumentativas - quando as noções de sábio e mágico ainda se confundem e as primeiras distinções entre sofia e filosofia começam a aparecer, podemos encontrar registros de mulheres que se ocupavam desta esfera sagrada do saber, como poetas e educadoras (Safo, Corina), sacerdotisas (Bacantes), personagens míticas (Musas) e heroínas literárias (Circe, Medéia, Penélope, Antígona, Ariadne, entre outras). As primeiras pensadoras de que se têm notícias, mais por referências de doxógrafos e citações em textos literários do que pela conservação de suas próprias obras, indicam não apenas discípulas de escolas filosóficas da antigüidade como também mulheres de destaque na vida cultural de Atenas do século V a.C. É o caso de Aglaonice, Aspásia, Melanipa e Arete.
Safo de Lesbos


Nasceu entre 630 e 612 a.C na cidade lésbia de Mitilene. Provavelmente nasceu em uma família aristrocata. Foi muito respeitada na antiguidade sendo considerada a décima musa. Porém, sua poesia continha conteúdo erótico, e foi censurado na idade média.
Casada com Cércilas, teve uma filha. Rivalizou com o poeta Alceu, com quem representa à criação da poesia lírica grega, em contraposição a poesia épica de Homero.
Safo tinha uma escola para moças, onde lecionava poesia, dança e música (considerada primeira escola de aperfeiçoamento). Ali as discípulas eram chamadas de Hetairai (amigas) e não alunas. A mestra se apaixona por suas “amigas” (todas) em especial uma Atis, sua favorita, porém Atis se apaixona por um homem, e em ciúmes lhe escreve um poema:
"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)”



Os pais da aluna tiram-na da escola, e Safo escreve que “seria bem melhor para mim se tivesse morrido”.
Dizem que ela se suicidou pulando de um precipício apaixonada pelo marinheiro Faonte. Morreu em data desconhecida, acredita-se que atingiu a
velhice, foi considerada por muitos a maior poetisa de todas. Assim como Homero era conhecido como o Poeta, Safo era conhecida como a poetisa.
“Há quem afirme que são 9 as musas. Que erro!
Safo é a décima musa”(Platão)
Mesmo que ela não tenha sido considerada filósofa em sua biografia, somente o fato de um de seus poemas tratarem o amor diferente, já mostrando o interesse em um amor livre de preconceitos, já demonstra uma nova visão para a sua época, o que muitos só foram descobrir depois!



Apásia de Mileto

Nascida em Mileto, permanece na cidade até seus 25 anos vai para Atenas. Passa a pertencer ao circulo da elite a qual pertence Péricles, e com ele tem um filho, que recebe o nome do pai, sendo amante dele, pois ele não podia separar- se segundo as leis atenienses. Pouco se sabe dela, pois ela não escreveu nada, sua historia é contada através de outros livros como os de Platão e outros.
Diótima de Mantinéia
Personagem fictícia criada por Platão (427-347 a.C.), é apresentada como sábia no diálogo O Banquete. Para alguns autores, esta personagem poderia ter sido inspirada em figuras reais, como Aspásia, ou outras, já que aparece como uma sábia (sophé) estrangeira.

Asiotea
Ensinava física na Academia de Platão, quando esta já era dirigida por seu neto, Espeusipo (393-270 aC), ao lado de outras mulheres que freqüentavam a escola.

Hipárquia
Aristocrata, é elogiada por Diógenes Laertios (Vida e Obra de Filósofos Ilustres) pela cultura e raciocínio, comparando-a com Platão. Seguia os costumes e idéias dos cínicos (Diógenes, o cínico) e escreveu Cartas e Tragédias.


Maria, a judia, ou Miriam
Viveu em Alexandria no séc. I d.C., seguidora do culto de Isis e considerada pelos historiadores da química como a fundadora da alquimia. Entre os seus escritos, está o livro de Magia Prática.
Hipácia de Alexandria
Falecida provavelmente em 415 d.C., foi filha do matemático e astrônomo Teón de Alexandria, e deixou alguns títulos de suas obras como Comentário a Aritmética de Diofanto, Sobre as cônicas de Apolonio e Corpus Astronômico. Estudou as obras de Platão e Aristóteles e tentou aplicar o raciocínio matemático ao conceito neoplatônico de Uno.
Pagã e partidária da distinção entre filosofia e ciência, tinha prestígio político e acadêmico em Alexandria. Perseguida pelos cristãos, que a acusavam de perseguição, foi agredida e assassinada na rua por um grupo de fanáticos liderados por um religioso chamado Pedro. Hipácia representava a antiga tradição egípcia e grega de sabedoria feminina que competia com as autoridades religiosas da época que começavam a impor uma nova cultura: as mulheres não tinham mais direito de falar em assembléias e nos cultos e cada vez menos podiam ensinar nas escolas. (conf. Hypatias’s Daughters, de Linda Lopez MacAlister).
Medievalidade (séculos V – XIV d.C.)
Introdução:

Do período compreendido como a Patrística na igreja católica até o século XII, as mulheres ocidentais ficaram privadas do direito à instrução e à participação pública e por causa disso, com raras exceções, não temos notícias de escritoras ou cientistas. A poetisa Casia (sec.IX) foi exilada pelo imperador bizantino Teófilo e se refugiou num monastério onde continuou a escrever versos, agora contra os homens néscios e ignorantes. Ana Comneno (séc. XI) filha do imperador bizantino Alejo I foi historiadora e, com seu marido, terminou a obra sobre a dinastia dos Comnenos, intitulada Alexiada. A partir do século XII, ocorre uma virada na cultura e na sociedade medieval do ocidente, com inovações teológicas e artísticas, e acontece o despertar das filósofas.


Hildegarda de Bigen ou Hildegad Von Bingen:



Nasceu em 16 de setembro de 1098 em Bermersheim perto de Alzey, e morreu em 17 de setembro de 1179. Foi mística, filósofa, compositora, e escritora, abadessa de Rupertsberg em Bingen. Filha de uma família senhorial da cidade que nasceu, foi educada no convento de Disibodenberg nas artes liberais, desde 1106 . em 1114 ingressou na ordem, que se regia por Regula Benedicti, tornando-se sua abadessa em 1136. Fundou seu próprio convento em 1147, na cidade de Rupertsberg, onde morreu.
Foi autora de várias músicas religiosas incluindo o Ordo Virtutis, uma espécie de ópera.Alegava ter visões inspiradas por Deus, e que Ele a encorajou a escrever livros. Escreveu livros de medicina na Europa demonstrando sua enorme inteligência.
Seus livros são: Liber simplicis medicinae, que trata de plantas, animais e minerais de uso terapeutico; e Liber compositae, que falava de natureza causa e sintoma das doenças com base na fisiologia microscopia, mensionando
a importancia das estrelas sobre o corpo. Depois dessa introdução cosmológica fala de doença da cabeça aos pés, falando de questões sexuais, gravidez e varios outros assuntos. Foi uma mulher reconhecida como figura religiosa por papas, reis, eclesiaticos... e sua influencia foi sentida por toda a Europa medieval.
Ela se baseava na medicina popular e tradições populares, recorrendo a amuletos, exorcismo de demonios e outros. Sua fama de mistica não ficaram apenas em seu país, e se espalharam chegando até a Roma. Houveram quatro tentativas de canonização, permaneceu apenas beatificada. A igreja anglicana a considera como santa.
Heloísa de Paráclito


Nasceu em Paris em 1101, em uma família riquíssima, foi educada por seu tio, e desde muito cedo mostrou talento para a vida intelectual. Completou o estudo das artes liberais (gramática, astronomia, geometria...), as que se ensinavam nas faculdades, e as que as mulheres tinham pouco acesso. Fulberto, seu tio, pediu ao filosofo e teólogo Pedro Abelardo que dava aulas de filosofia a sua sobrinha, para completar sua formação, e logo aceitou.
Heloísa tinha 16 anos e Abelardo tinha 38, e logo surgiu um amor forte e apaixonado entre os dois. Suas relações escondidas duraram 2 anos até que ela ficou grávida e ai surgiu o escândalo, já que Abelardo era casado. Foram a Bretanha, a casa da família de Abelardo, onde Heloísa ficou até dar a luz. Abelardo foi a Paris para enfrentar suas responsabilidades e encontrou um furioso Fulberto, e ofereceu casar-se com ela, porém em segredo, pois já o era casado em público, e se desquitasse perderia a licença de filosofia.
Devido a convivência de um casal não casado, os escândalos continuaram, Fulberto separou Heloísa de Abelardo, e os proibiu de se encontrarem. Porém de nada isso adiantou, escaparam e voltaram a se ver. Heloísa ficou no convento onde havia sido educada, e as constantes visitas de Abelardo provocaram um escândalo maior: a profanação de um lugar sagrado perante um ato ilícito.
Este fato fez com que Fulberto perdesse o controle, e mandou dois capatazes para castrar Abelardo. No outro dia, já conhecido o atentado, toda Paris desfilou ante Abelardo por sua sorte. O Rei mandou castigar Fulberto, tomando alguma de suas propriedades. Abelardo se convenceu que Deus o havia castigado por pecar, e decidiu se tornar monge. Mas para ele, tinha que divorciar-se e convencer a Heloísa se torne freira em um convento.
Depois de convencer Heloísa, só faltava decidir quem ficava com o filho, e finalmente entregaram-no a irmã de Abelardo, que o criou em
Bretanha. Feito isso, Abelardo seguiu em seu monastério em Saint Denis, e Heloísa em Argenteuil em 1118.
Abelardo morreu 1142 e Heloísa em 1164.
Depois de se separarem nunca mais se viram, porém trocaram cartas, e elas mostram que nunca deixaram de se amar.
Catalina de Siena


Nasceu em Siena no ano de 1347 e morreu em 1380. Ingressou em uma experiência ascética como Ângela de Foligno, retirando-se em sua própria casa. Aos dez anos entrou na Ordem Terceira de São Domingo das mulheres que, permanecendo em casa, seguiam um modo de vida rigorosamente religioso. Depois de uma experiência, em que Jesus aparecia em uma visão a ela tirando o coração dela e colocando o dele no lugar, saiu aos quatro ventos denunciando o papa, os reis e os cardeais.
Sua principal critica era que a igreja tinha um compromisso muito grande sobre as coisas temporais... Seu espírito reformador era estranho a qualquer impulso nostálgico ou apocalíptico, e lutou contra os vícios da igreja respeitando sua hierarquia somente num sentido histórico. Afastando-se da tradição mística, concebia o amor divino não como uma experiência nupcial, mas antes como um “sentimento materno-filial”. Continuou laica e liderou uma comunidade heterodoxa de homens e mulheres, sendo considerada a última reformadora religiosa do período medieval.
Depois dela, a igreja católica ocidental não é mais considerada a Civitas Dei, aquela instituição milenar total que a Europa havia conhecido depois da queda do império romano.
(fonte com uma visão diferente)
Foi muito importante para a igreja, aliás, é uma das três doutoras da igreja, apesar de nunca ter uma preparação formal. Ela foi o instrumento usado pelo Senhor para que o papado voltasse para Roma, e saísse de Aviñon (Paris). Ela tinha um profundo amor pela santa virgem, e pelos pobres.
Durante sua vida converteu muitas pessoas, de diferentes idades, classes sociais, a uma vida cristã. Muitos dizem que Jesus casou com ela na fé, mas é difícil de acreditar, pois ela havia tido muitas visões, porém existem pessoas que acreditam. Fez muitos milagres aos pobres, e vários outros, e foi canonizada. Sua festa é comemorada no dia 30 de abril.
Cristina de Pizán



Nasceu em Veneza, no ano de 1365, e morreu no mosteiro de Poissy em torno de 1430. Foi filosofa e poeta francesa, embora tenha nascido na Itália. Filha do médico e astrólogo da corte do rei Carlos V da França, casou-se com o secretário e escrevente do rei, Étienne Castel. Aos vinte e cinco anos ficou órfã de pai, e viúva, com sua mãe para tomar de conta. Sozinha, tomou coragem e se pôs a estudar e escrever. Seu trabalho foi bem sucedido, e começou a vender livros por encomenda para rainhas e princesas.participou da querelle. No ano de 1405 escreve seu livro mais famoso, A cidade das mulheres. Nele, questiona o “machismo”.
Algumas obras literárias:
Le Livre des Faitz et bonnes Moeurs du Saige Roy Charles, biografia aprofundada escrita por pedido de Filipe, duque da Borgonha, que educava o filho mais velho de Cristina em sua corte como seu próprio filho; é um livro com lições de moral cujo mérito é um pouco prejudicado por excessiva demonstração de erudição e estilo difuso;
Le Livre de Paix, tratado sobre a educação dos príncipes que devem ser treinados, segundo a autora, em honestidade;
Trésor de la Cité des Dames
Lettre à Isabeau de Bavière, na qual tenta reabilitar o caráter de uma mulher difamada pelo Roman de la Rose.
Sua obra poética consiste de longos poemas como:
Le Livre des Mutations de Fortune,
Le Chemin de Longue Etude,
Le Livre des cent Histoires de Troie.
São composições ambiciosas, pesadas. Suas baladas, rondós e poemas menores são mais elogiados pela clareza e graça. Clemente Marot, 80 anos depois de sua morte, a elogia e considera superior a seu mestre, Eustache Deschamps.
Modernidade (Séc. XV - XVIII)
Introdução:
Ao longo da Idade Média, as possibilidades de estudo para as mulheres era restrita à sua entrada em alguma ordem religiosa ou em algum mosteiro onde poderia aprender a ler, estudar as escrituras e receber alguma noção elementar de direito civil e canônico; algumas chegavam a ocupar cargos de bibliotecária, escrevente (copista) ou professora. Até o renascimento, dominava a idéia de desigualdade das capacidades intelectuais e profissionais entre os sexos, o que se refletia nas concepções pedagógicas da época. Vozes isoladas e com motivações diversas propagavam a necessidade da educação das mulheres: Erasmo de Rotterdam dizia que a educação de ambos era necessária para o bom convívio do casal numa sociedade em que homens e mulheres estão destinados a viver juntos; Martin Luther, para que as jovens pudessem ler a Bíblia por si mesmas. Até o século VII o debate sobre a educação foi animado por intelectuais, literatos e pedagogos que propunham um modelo diversificado de educação, conforme o sexo, visando justificar destinos sociais diferentes para homens e mulheres. O pedagogo Amos Comenius (1592-1670) foi uma exceção ao propor uma teoria da instrução universal, para todas as idades, todas as classes sociais, sem distinção de sexo. O humanismo, que na Itália iniciou-se com Petrarca e Boccaccio, ofereceu uma obra mitológico-literária que resgata as figuras femininas notáveis da antigüidade, distinguindo o papel da mulher no campo cultural (De mulieribus claris –1361). O Renascimento, nos séculos XV e XVI, coincidem com a abertura gradual dos níveis mais elevados de instrução para as mulheres e com o fim da proibição do acesso feminino aos campos da arte e da literatura, pelo menos para uma elite aristocrática ou burguesa. Por outro lado, toda esta efervescência científica e cultural não é capaz de impedir que os tribunais da Inquisição espalhem o terror e a morte, principalmente entre as mulheres mais pobres e velhas, viúvas ou solteiras, durante três séculos.



Teresa de Jesus (de Ávila)



Nasceu em 18 de março de 1515, em Gotarrendura, e morreu em 4 de outubro de 1582, venerada pela igreja católica e canonizada em 1622, em Roma pelo papa Alexandre VII. Sua festa litúrgica é comemorada no dia 15 de outubro.
Teresa de Cepeda e Ahumada nasceu na província de Ávila, Espanha, numa família da baixa nobreza. Seus pais chamavam-se Alonso Sánchez de Cepeda e Beatriz Dávila e Ahumada. Teresa refere-se a eles com muito carinho. Alonso teve três filhos de seu primeiro casamento. Beatriz deu-lhe outros nove.
Aos sete anos, gosta muito de ler histórias dos santos. Seu irmão Rodrigo tinha quase a sua idade, por isto costumavam brincar juntos. As duas crianças viviam pensando na eternidade, admiravam a coragem dos santos na conquista da glória eterna. Achavam que os mártires tinham alcançado a glória muito facilmente e decidiram partir para o país dos mouros com a esperança de morrer pela fé. Assim sendo, fugiram de casa, pedindo a Deus que lhes permitisse dar a vida por Cristo. Em Adaja encontraram um dos tios que os devolveu aos braços da aflita mãe. Quando esta os repreendeu, Rodrigo colocou toda a culpa na irmã. Com o fracasso de seus planos, Teresa e Rodrigo decidiram viver como ermitães na própria casa e construíram uma cela no jardim, sem nunca conseguir terminá-la. Desde então, Teresa amava a solidão.
A mãe de Teresa faleceu quando esta tinha quatorze anos: "Quando me dei conta da perda que sofrera, comecei a entristecer-me. Então me dirigi a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei com muitas lágrimas que me tomasse como sua filha". Quando completou quinze anos, o pai levou-a a estudar no Convento das Agostinianas de Ávila, para onde iam as jovens de sua classe social.
Um ano e meio mais tarde, Teresa adoeceu e seu pai a levou para casa. A jovem começou a pensar seriamente na vida religiosa que a atraia por um lado e a repugnava por outro. O que a ajudou na decisão foi a leitura das "Cartas" de São Jerônimo, cujo fervoroso realismo encontrou eco na alma de Teresa. A jovem comunica ao pai que desejava tornar-se religiosa, mas este pediu-lhe para esperar que ele morresse para ingressar no convento. No entanto, em uma madrugada, com 20 anos, a santa fugiu para o convento Carmelita de Encarnación, em Ávila, com a intenção de não voltar para casa.
Seu pai ao vê-la tão motivada, deixou que seguisse com o que queria. Um ano depois fez profissão dos votos. Um pouco depois, uma enfermeira começou a olestá-la antes de fazer os votos, seu pai a tirou do convento. Teresa havia pirado, e seu pai a levou ao hospital. Os médicos já tinham se dado por vencidos, quando graças a um livro que, seu tio Pedro deu a ela, o terceiro alfabeto espiritual, começou a pratica-lo em orações mentais, conseguio vencer a doença, e voltou ao Carmelo.
Logo que chegou, conquistou a todos com sua caridade e amabilidade. Segundo as regras dos conventos espanhóis, as religiosas podiam receber todos os visitantes que desejassem, e como ela passava muito tempo fazendo isso, se descuidou de sua orção mental. Pouco depois da morte de seu pai, o confessor de Teresa fê-la voltar a praticar a oração mental, pois isso a ajudaria muito. No entanto não estava decidida a entregar-se totalmente a Deus, nem a renunciar o tempo que passava recebendo as visitas. Mesmo assim, nunca deixou de prestar atenção nos sermões, por piores que fossem.
Decidiu fundar um convento reformado. As autoridades aprovaram, porém muitas pessoas da nobresa criticram, até suas proprias irmãs o fizeram. Apesar disso tudo, prossegui com o projeto. Acabou fundando esse convento e mais dois no fim de sua vida. Morreu em uma viajem.
Teresa é uma das maiores personalidades da mística católica de todos os tempos. Suas obras, especialmente as mais conhecidas (Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Moradas e Fundações), contém uma doutrina que abraça toda a vida da alma, desde os primeiros passos até à intimidade com Deus no centro do Castelo Interior. Suas cartas no-la mostram absorvida com os problemas mais triviais. Sua doutrina sobre a união da alma com Deus é bem firmada na trilha da espiritualidade carmelita, que ela tão notavelmente soube enriquecer e transmitir, não apenas a seus irmãos, filhos e filhas espirituais, mas à toda Igreja, à qual serviu fiel e generosamente. Ao morrer sua alegria foi poder afirmar: "Morro como filha da Igreja".
Santa Teresa de Ávila é considerada um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Mesmo ateus e livres-pensadores são obrigados a enaltecer sua viva e arguta inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. O grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, a tinha em tão alta estima que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho espiritual, enaltecendo-a em muitos de seus escritos.
Louise Labé

Nasceu em 1524 e filha de um rico cordoeiro, Louise recebeu uma ótima educação, muito acima de qualquer outra da época. Aos 16 anos se vestiu de homem para participar de debates, acompanhando seu amante ao cerco de Perpignan. Anos depois, novamente travestida, participou de um torneio de esgrima em Lyon.
Em 1550 resolvel casar-se com um rico cordoeiro, como foi seu pai. Em sua mansão, deu grandes recepções para a burguesia, e quando o marido morreu, voltou a ter aventuras amorosas.
Suas obras sempre estavam envolvidas com o amor(paixão sensual e ardente), e sempre defendendo o feminismo.
LouiseLabé foi poetisa discípula do poeta napoleônico Maurice Scevé. Casada sem filhos, se dizia uma mulher de costumes liberais. Escreveu Sonetos e Debate sobre Loucura e Amor. Na dedicatória desse livro, Labé escreveu uma espécie de manifesto a favor do feminismo, como por exemplo, o direito das mulheres a ciência e outros conhecimentos... escreveu também Élégies.
Em uma carta de Louise para sua amiga, Mademoiselle, Louise mostra o que pensa:
“É chegado o tempo, Mademoiselle, em que as leis inflexíveis dos homens não mais impedirão as mulheres de se devotarem às ciências e disciplinas; parece-me que aquelas que forem capazes, irão empregar esta honrada liberdade, a qual nosso sexo outrora tanto desejava, em estudar estas coisas e mostrar aos homens o mal que causaram em nos privar do benefício e da honra que poderiam nos advir. E se alguém chega ao estágio no qual seja capaz de pôr suas idéias no papel, deveria fazê-lo com muito intelecto e não deveria desprezar a glória, mas adornar-se com ela antes do que com correntes, anéis e roupas suntuosas, as quais não podemos considerar realmente como nossas exceto pelo costume. Mas a honra que o conhecimento nos trará, não nos pode ser tomado – nem pela astúcia de um ladrão, nem pela violência de inimigos, nem pela duração do tempo.”
A carta mostra claramente que ela estava mesmo muito confiante que um dia as mulheres chegariam a ter os mesmos direitos que o homem.
Morreu no ano de 1566.
Mary Astel
Nascida em 1666, foi escritora britânica, e muito importante figura no protestantismo inglês. Angelicana, Astel unificou seus pensamentos filosoficos e religiosos. Conservadora na política, rigorosa na religião, inovou, contundou o campo moral e pedagógico da sua época.
Nasceu em familia simples, e as mulheres nessa época eram 80% analfabetas, mesmo assim, conseguiu estudar, graças ao seu tio, que foi seu preceptor. . Através dele, estudou os filósofos de Cambridge, que serviram de filtro entre a cultura e a religião anglicana e a filosofia racionalista. Conheceu as obras de Descartes e Hobbes. Com essa formação, ela se convenceu da necessidade e da legitimidade de uma evolução espiritual e cultural das mulheres, e decidiu empenhar-se em romper o círculo vicioso da ignorância e inferioridade intelectual que aprisionava as mulheres de sua época. Suas idéias eram com base tanto na religião, como na filosofia, pois acreditava que o uso pleno das faculdades intelectuais, era o melhor jeito de servir a Deus, tanto para homens, como para mulheres.
Em 1694, publicou a primeira de suas obras de caráter feminista: A Serious Proposal to the Ladies for the Advancement of their true and greater Interests. By a lover of her Sex. A partir desta publicação, começa uma intensa correspondência com o filósofo neoplatônico e anticartesiano John Norris (1657-1711), que foi editada, de comum acordo, depois. Fortalecida e esclarecida de suas convicções após este diálogo, publica outros textos e dedica-se a um projeto, nunca realizado, de criação de uma espécie de mosteiro protestante feminino, que seria uma escola e uma comunidade onde as mulheres pudessem, livremente, dedicar-se ao seu aperfeiçoamento racional e espiritual, em um clima afetivo fraterno, como um modo de vida alternativo às instituições sociais e religiosas, então existente.
Mary Wollstonecraft
Nascia em Spitalfields no ano de 1739, próximo a Londres, o seu pai, um fabricante de lenços, era um homem irritadiço e perturbado, que tanto batia na esposa, nos filhos ou no cão da família. Autodedata, aprendeu a ler aos 14 anos. Apesar de ter uma família de posses, preferiu morar comunitariamente com sua irmã e uma grande amiga. Faziam artezanato para viver, e tentaram abrir uma escola, porém não obtiveram susesso.
Ao longo de sua vida, conheceu vários intelectuais não conformistas, que contribuíram para alargar sua cultura. Leu Schakespeare, Milton, Pope, Locke, Rousseau. Publicou seu primeiro livro em 1987, Pensamentos sobre a educação das filhas. Em 1790, durante os acontecimentos revolucionários, escreve a Reivindicação dos Direitos dos Homens e, em 1972, sua obra mais importante, um tratado político-filosófico intitulado Reivindicação dos Direitos da Mulher. Para ela, as mulheres deveriam envolver-se plenamente no projeto ilustrado e reformador: educação, direitos políticos, responsabilidade pessoal, igualdade econômica, racionalidade e virtude inseparáveis, liberdade e felicidade.
Em 1796, começou uma relação com o filósofo radical William Godwin, do qual engravidou e com quem se casou, apesar de negar o valor positivo do matrimônio. Em 1797, deu a luz à Mary Godwin, que depois se tornaria Mary Shelley (1792-1822), famosa escritora do romance Frankenstein (1818). Morreu quinze dias após o parto, de septicemia, em 1797.
Olímpia de Gouges

Nascida em Montauban como Maria Gouze, era filha bastarda de um homem muito influente em seu local de nascimento e de Anne- Olimpe Muisset, então casada com um açougueiro da vila. Alguns de seu biógrafos afirmam que não sabia ler nem escrever, situação comum na época para muitas mulheres, especialmente as mais pobres, mas não deixa de ser surpreendente para uma mulher que irá escrever mais de quatro mil páginas de escritos revolucionários ao longo de sua vida, entre peças de teatro, panfletos, libelos, novelas autobiográficas, textos satíricos, utópicos, filosóficos...
Casou-se jovem em 1765 com Luis Aubry de quem teve um filho, Pierre. Enviuvou logo depois e, em 1770, transferiu-se para Paris onde adotou o pseudônimo de Olympe des Gouges. Pelas pinturas remanescentes, era uma mulher de notável beleza. Em torno de 1784 começou a escrever ensaios, manifestos e iniciou ações de cunho social.
Como apaixonada advogada dos direitos humanos, Olympe de Gouges abraçou com destemor e alegria a deflagração da Revolução. Mas logo se desencantou com a constatação de que a fraternité da Revolução não incluía as mulheres no que se refere à igualdade de direitos.
Em 1791 ela ingressou no Cercle Social— uma associação cujo objetivo principal era a luta pela igualdade dos direitos políticos e legais para as mulheres. Reunia-se na casa da conhecida defensora dos direitos das mulheres Sophie de Condorcet. Foi aí que Olympe expressou pela primeira vez sua famosa assertiva: "a mulher tem o direito de montar o seu palanque".
No mesmo ano, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ela escreveu a Declaração dos direitos da Mulher e da Cidadã. Logo depois, escreveu o Contrato Social, nome inspirado na famosa obra de Jean-Jacques Rousseau, propondo o casamento com relações de igualdade entre os parceiros.
Por se envolver ativamente nas questões que lhes pareciam injustas, como a condenação à morte de Luis XVI, por ser contra a pena de morte, e desapontada em suas expectativas, passou a escrever com mais e mais veemência. Em 2 de junho de 1793, os Jacobinos prenderam os Girondinos e seus aliados, enviando-os em seguida à guilhotina. Nesse mesmo ano, Olympe escreveu a peça Les trois urnes, ou le salut de la Patrie, par un voyageur aérien e, por causa dela, foi presa. A peça demandava a realização de um plebiscito para escolher uma das três formas potenciais de governo: República indivisível, Governo federalista e Monarquia constitucional. Os Jacobinos, que já haviam executado uma rainha, não estavam dispostos a tolerar a defesa dos direitos das mulheres: exilaram Sophie de Condorcet e, um mês depois, em 3 de novembro de 1793, guilhotinaram Olympe de Gouges.

Contemporaneidade (Séc. IX - XX)
Introdução:
A resistência feminina na época contemporânea: revolucionárias, espiritualistas, feministas, acadêmicas. Filósofas, enfim?

O feminismo foi a primeira forma de identidade pública que as mulheres – antes uma minoria e depois, grupos cada vez mais extenso - se outorgaram. O i ngresso de mulheres, como sujeito sexualmente diferenciado, na cena política, se produziu sobre a base filosófico–jurídica da “Declaração dos direitos do homem e do cidadão” dos revolucionários franceses. O movimento feminista conviveu, desde o início do século XIX, com o movimento socialista. O socialismo, por sua vez, surgiu da reelaboração dos ideais revolucionários e ilustrados e foi condutor de um projeto de democracia política e de igualdade econômica e social. Mas não houve identificação nem assimilação do feminismo histórico com o projeto socialista. Pelo contrário, as diferenças entre as feministas “burguesas” ou liberais e as feministas socialistas se acentuaram. O horizonte ético político do feminismo do século XIX foi a igualdade entre os sexos e a emancipação jurídica e econômica da mulher, mesmo que a versão burguesa acentuasse mais a igualdade política e civil e a versão socialista acentuasse mais a igualdade social e econômica. Também se formou uma corrente dualista que demarcou a diferença na igualdade e privilegiou formas de luta e organização específicas e autônomas para as mulheres. De todo o modo, ao longo do século XIX, as feministas desenvolveram uma agenda ampla e específica, ao mesmo tempo: a luta pela liberdade de pensamento e associação, a abolição da escravidão e da prostituição das mulheres, e pela paz. O signo político do feminismo mudou na segunda metade do século XIX. Os processos de industrialização e urbanização que se desenvolveram na Europa e na América envolveram as mulheres de classes operárias e pequeno-burguesas nos movimentos socialista e feminista, que começaram a delinear uma estratégia política específica para enfrentar a “questão da mulher”. Inúmeras ativistas e escritoras foram fundamentais no desenho do movimento feminismo que caracteriza este período. Nos Estados Unidos, Lucretia Mott (1793-1880) esteve envolvida com a abolição da escravidão, o direito ao voto e a paz no mundo através da Society of Friends; na Inglaterra, se formou a Society for Woman’s Sufrage, e a Ladies National Associations, defensora da regulamentação da prostituição e a International Abolitionst Federation, promovidas por Josephine Butler; também a inglesa Mary Ann Evans, que publicava sob o pseudônimo de George Eliot, escrevia novelas de fundo filosófico e pedagógico para a compreensão da condição da mulher; na França, a anarquista Louise Michel, junto com outras mulheres, participava da Comuna de Paris (1871) enquanto Mme. Edmond Adam (1836-1877),que publicava com o pseudônimo de Julliet Lambert e Mme. Jenny d’ Héricourt envolviam-se com uma dura polêmica contra as idéias anti-feministas de Proudhon.
Rosa de Luxemburgo


A protagonista mais importante do marxismo nasceu na Polônia, em uma família judia. Adolescente, começou a perceber-se de sua condição judaica e começou a freqüentar os ambientes do partido social - democrata polonês que era perseguido pela política. Migrou em 1889 para a Suíça, que funcionava então como uma espécie de zona franca para socialistas de toda a Europa, e se inscreveu na Faculdade de Filosofia. Ali conheceu Leo Jogiches, que seria seu companheiro até 1906 e com quem publicava, em Paris, o jornal A Causa Operária.
Ao longo de seus estudos universitários, participou, sempre à esquerda, das atividades políticas do SPD, o partido social - democrata polonês e de encontros políticos internacionais, como o III Congresso da Internacional Socialista. Em 1897, licenciou-se em Ciência Políticas com a tese O Desenvolvimento Industrial na Polônia. Antimilitarista, foi presa diversas vezes. Também na prisão escreveu seus textos e participou da Liga Espartacus, que participou, junto com os operários e militares insurretos da chamada República de Weimar, na Alemanha, instalada em 1918, de caráter democrático-parlamentar.
Entre seus diversos textos, conta-se com Acumulação do Capital. Contribuição para a explicação econômica do imperialismo (1912); Militarismo, guerra e classe operária (1914); A Revolução Russa (1917); entre diversos artigos para o jornal e revistas como a Spartakus. Em 1919 é assassinada pela polícia em uma prisão alemã. OBS.: Há um filme sobre a sua história, intitulado Rosa Luxemburgo, da diretora Margarethe von Trotta, 1986, Globo Vídeo. Também Hannah Arendt dedicou-lhe uma biografia (1966), que faz parte do livro Homens em Tempos Sombrios, coletânea publicada no Brasil em 1987 e reimpressa em 1998 pela Companhia das Letras.
Obras:
Trabalhos teóricos:
O Manifesto ComunistaO Capital
O 18 de Brumário de Luís Bonaparte
Sobre a Questão JudaicaGrundrisseA Ideologia Alemã
Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844
Teses sobre Feuerbach

Sociologia e antropologia:
Alienação · BurguesiaConsciência de classeFetichismo da mercadoriaComunismoHegemonia culturalExploração · Natureza humanaIdeologia · ProletariadoReificação · SocialismoRelações de produção

Economia:
Força de trabalho · Lei do valorMeios de produçãoModo de produçãoForças produtivasTrabalho excedenteValor ExcedenteProblema da transformaçãoTrabalho assalariado
História:
Anarquismo e marxismoProdução capitalistaLuta de classesDitadura do proletariadoAcumulação primitiva do capitalRevolução proletáriaInternacionalismo proletárioRevolução mundial
Filosofia:
Materialismo históricoMaterialismo dialéticoMarxismo analíticoAutonomismo marxistaFeminismo marxistaHumanismo marxistaGeografia marxistaMarxismo estruturalMarxismo ocidentalMarxismo libertárioJovem Marx
Principais obras:
· Reforma ou Revolução
· Acumulação do Capital
· Greve de Massas, Partidos e Sindicatos
· Introdução à Economia Política
· Questões de Organização da Social-Democracia Russa
· A Revolução Russa
· Que Quer a Liga Spartacus?
Lou Andreas-Salomé


Nasceu em 1861 em São Petersburgo e morreu em 1937. Foi uma intelectual alemã nascida na Rússia. Ela escandalizou a sociedade e quebrou as regras morais, teve vários amantes, mulher sensível, mito, muito sensual.
A produção literária de Lou esteve sempre muito ligada aos seus envolvimentos amorosos e da relação com Rilke, aos 36 anos, resultaram obras fundamentais da escritora como "A humanidade da mulher" e "Reflexões sobre o problema do amor".
“Ouse, ouse... ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!Não tente adequar sua vida a modelos,nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la!Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!”
Louise von Salomé teve um papel intelectual de primeira ordem na cultura européia na virada do século. Associada aos nomes famosos do filósofo Nietzsche, do poeta Rainer Maria Rilke e do pai da psicanálise Sigmund Freud, ela encarna uma síntese de individualidade e espírito de época raro. Nasceu na Rússia, em São Petesburgo, numa família que se orgulhava de suas origens alemãs e professava a religião luterana.
Teve uma educação esmerada, dedicando-se aos estudos literários e filosóficos com o pastor holandês Hendrick Gillot, um homem de cultura e viajado. Dotada de uma grande inteligência e uma aparência agradável, freqüentava o estúdio de seu professor, que a definia como livre pensadora, para ler Descartes, Rousseau, Pascal, Kant, Rousseau, Voltaire e textos de história das religiões. Por conselho de seu preceptor, matricula-se numa universidade italiana e passa freqüentar o salão de Malwida von Meysergurg (1816-1903), uma intelectual liberal que também a hospeda. Ali conhece o filósofo Paul Ree. Judeu ateu e nihilista com quem estabelece uma relação intelectual que lhes levou a viver juntos como “irmão e irmã”, segundo suas palavras.
O debate entre ambos acerca da questão de Deus, que Lou entendia como uma falta e busca e não como uma recusa da questão, teve mais um participante: Friedrich Nietzsche, que também perambulava pela Itália na época. A relação a três durou o tempo de Nietzsche enamorar-se dela e pedir-lhe em casamento, o que ela recusou e significou a ruptura com ele, indo embora para Berlin com Paul Ree.
Na Alemanha, conhece em 1987 o então jovem e desconhecido poeta Rainer Maria Rilke, com quem mantém um intenso romance e uma correspondência até 1926. Em uma viagem à Rússia, em 1889, com Rilke, encontra o escritor León Tolstói, com quem debate acerca da possibilidade de conciliar progresso técnico e científico com o espírito religioso russo.
Em 1919, por sugestão do filósofo judeu Martin Buber, escreveu seu primeiro ensaio de argumento psicológico, O Erotismo, rompendo com o terreno da arte e da literatura onde até então transitava. Este ensaio lhe abriu caminho até Freud, coroando uma intensa busca existencial e intelectual. A partir daí passou a freqüentar os ter ritórios de debate psicanalíticos e encontrou nesta teoria o argumento que necessitava para articular seus maiores interesses: a arte, a religião e a experiência amorosa, como se pode verificar em seus textos: Reflexões sobre o problema do amor (1900); Religião e Cultura (1898) e mesmo o ensaio de 1986, Jesus, o judeu. A partir de 1923, começa a ser analista didática e publica, em 1931, Meu Agradecimento a Freud, entre outros tantos textos não indicados aqui. OBS.: Em português está disponível o livro Minha Vida, pela Brasiliense, 1985.
Santa Teresa da Cruz (Edith Stein)


Foi uma religiosa alemã, a última de onze irmãos de uma família judia que professava o Judaísmo. Seus pais judeus foram Siegfried e Augusta Courant Stein. Faleceu, aos 51 anos, asfixiada, numa câmara de gás, a 9 de Agosto de 1942, no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Foi professora de Filosofia, sendo discípula de Edmund Husserl (Fenomenologia) e secretária particular desse filósofo.O pensamento desta autora traz de novo à discussão, em pleno século XX, a tradição mística cristã de Santa Teresa e de São João da Cruz, no contexto da Alemanha nazista, da queda da República de Weimar, e na iminência da Segunda Guerra Mundial. Última filha de uma numerosa família judia de Breslau, após seus estudos de colégio buscou ingressar na universidade de sua cidade para estudar psicologia mas, fascinada pelos estudos de Edmund Husserl, decide transferir-se para a universidade de Gottinger, onde ele lecionava. Ali também estuda com Max Scheler. Em 1915 presta serviço na Cruz Vermelha e em 1916 se licencia, com distinção, com uma tese sobre O problema da empatia [Einfühlung]. Segue estudando o pensamento de São Tomás e outros autores cristãos, que a afastam das idéias de Husserl, com quem trabalhava então, a convite dele. Em 1918 decide retirar-se da universidade, e aproximar-se mais do catolicismo, ao qual acaba se convertendo em 1922, de pois de ler a Vida de Teresa de Jesus.. Parece que a decisão de Edith leva Husserl e outros professores veteranos a serem reticentes quanto à habilitação para mulheres lecionarem na universidade. Ela protesta contra esta discriminação encoberta e faz um pedido de esclarecimento, ao qual o ministério responde em favor da universidade. Convertida ao catolicismo, começa a lecionar no liceu das dominicanas e, em 1925 dedica-se a uma intensa atividade científica e pedagógica, traduzindo obras de Tomás de Aquino e Newman e publicando Sobre o Estado (1925) e A fenomenologia de Husserl e a filosofia de Tomás de Aquino (1929). Interessou-se pela questão feminina no campo filosófico e religioso, publicando Ethos das profissões das mulheres (1932). Stein sustentava que o movimento feminista alemão havia conseguido todos seus objetivos na Constituição da república de Weimar. A nova realidade social das mulheres requeria agora a defesa dos resultados conquistados e a transmissão às novas gerações da memória histórica das lutas feministas, uma vez que a renovação deveria implicar, antes de tudo, as mulheres cristãs. Stein afirmava em vários textos que o Antigo Testamento e o Direito Romano haviam perpetuado na igreja uma visão errada da mulher que era insustentável . Para Stein, a mulher tem uma realidade ontológica igual e distinta do homem; uma realidade ontológica que deve explorar e conhecer por si mesma enquanto que a mulher vista pela mulher não é a mesma mulher vista pelo homem. Parece que Stein pretende propor a consciência fenomenológica como uma consciência cristã e feminina, como base de um novo modo de fazer pedagogia, filosofia, ação civil e ação religiosa. Seus últimos estudos reúnem todos os temas propostos em seu pensamento, no material inédito intitulado Scientia Crucis, dedicado a São João da Cruz. A partir de 1938, Edith começa a ser perseguida pelas autoridades por causa de suas origens judias e, em 1942, ela e sua irmã são enviadas para o campo de concentração de Auschwitz, onde morre, no mesmo ano, numa câmara de gás. Foi beatificada em 1987. OBS.: No Brasil, pode-se encontrar uma biografia intelectual de Edith Stein feita por Christian Feldmann publicada pela EDUSC, 2001: Edith Stein. Judia, Atéia e Monja.
Maria Zambrano


María Zambrano, filósofa e escritora espanhola, nasceu em Málaga em 1904 e faleceu em Madrid em 1991.
O pai, um catedrático, estabelece profunda amizade com o poeta Antonio Machado. Em 1924 conhece Ortega y Gasset que a introduz no meio cultural madrilenho, principalmente na tertúlia da Revista de Occidente. Completa o curso de Filosofia em 1927, onde estudou com Xavier Zubiri, García Morente e Ortega.
No período que antecede a guerra civil espanhola, sucedem-se uma série de atos públicos e de grande intervenção política como a criação da Liga de Educação Social, mais tarde assaltada e encerrada pela polícia. Em 1936 Maria Zambrano faz parte de um grupo de intelectuais que, com missões pedagógicas, iniciam uma nova experiência de educação popular. Percorrem povoados e aldeias remotas levando-lhes pela primeira vez o cinema, a pintura, o teatro e a música clássica.
Em janeiro de 1939 para um exílio de 45 anos, vivendo em Havana, México, Paris, Roma e Suíça, onde continuou seu trabalho como professora de filosofia até finalmente regressar a Madri em 1984. Morre em 1991, em meio a um enaltecimento de sua obra e de personalidade, tendo recebido vários prêmios.
A relação entre a filosofia e a poesia, o mito e a razão, a paixão e o intelecto, a obra e a ação, o papel dos intelectuais e o sentido da história parecem ser a principal preocupação de Maria Zambrano. Pode-se perceber as influências do pensamento ortegiano e heideggeriano em sua obra, mas seu estilo e escritura se impõem com uma marca própria. Propõe a superação do racionalismo através de uma “razão poética”, cujo exercício prático pode ser verificado em sua própria obra. Partindo de uma epoké fenomenológica de cunho místico – o silêncio que deixa falar as coisas - Zambrano segue a idéia heidegeriana de que a essência dominadora da razão ocidental, desde Platão até o idealismo alemão, construiu um logos desencarnado, desarraigado, que deprecia a vida, um espírito que nega o imediato para afirmar sua liberdade absoluta. Frente ao logos que que faz do homem contemporâneo um ser exilado e nihilista, Zambrano reclama uma razão poética que seja uma mediação para recuperar o contato com a terra, sem cair no irracionalismo. A influência de Jung em sua obra, evidente na própria terminologia (animus/anima), leva a filósofa a destacar a polaridade histórica dos sexos como o dualismo alma/feminina intelecto/masculino.
O tratamento que faz das figuras emblemáticas de Antígona e Diotima se encontra demarcado, portanto, na missão salvadora que acompanha a palavra feminina. Esta missão, entretanto, é o reverso da crítica que faz ao feminismo “nada é nem vale o moderno feminismo” (em : Eloisa ou a existência da mulher) já que, segundo Zambrano, este participa do racionalismo moderno que considera que deve ser superado. Talvez este aspecto tenha lhe valido o reconhecimento de pensadores como Cioran, que elogia a profundidade filosófica de Zambrano afirmando que “não vendeu sua alma à Idéia” e por isto não se tornou “presunçosa e agressiva” como toda mulher que se dedica à filosofia... (El País, 4.11.1979) OBS.: Em português, a Assírio e Alvim publicou, em 2000, a coletânea de textos A Metáfora do Coração e outros escritos.
Hannah Arendt
Nasce em 1906 e morre em 1975. foi uma teórica política alemã, muitas vezes descrita como filósofa, apesar de ter recusado essa designação. Emigrou para os Estados Unidos durante a ascensão do nazismo na Alemanha e tem como sua magnum opus o livro "Origens do Totalitarismo".
Nasci da numa rica e antiga família judia de Linden, Hanôver, fez os seus estudos universitários de teologia e filosofia em Königsberg. Arendt estudou filosofia com Martin Heidegger na Universidade de Marburgo, relacionando-se passional e intelectualmente com ele. Posteriormente Arendt foi estudar em Heidelberg, tendo escrito na respectiva universidade uma tese de doutoramento sobre a experiência do amor na obra de Santo Agostinho, sob a orientação do filósofo existencialista Karl Jaspers. A tese foi publicada em 1929.
Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha para Paris, onde trabalhou com crianças judias expatriadas e onde conheceu e tornou-se amiga do crítico literário e místico marxista Walter Benjamin. Foi presa (uma segunda vez) em França conjuntamente com o marido, o operário e "mar xista crítico" Heinrich Blutcher, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.
Trabalhou nos Estados Unidos em diversas editoras e organizações judaicas, tendo escrito para o "Weekly Aufbau". Em 1963 é contratada como professora da Universidade de Chicago onde ensina até 1967, ano em que se muda para a New School for Social Research, instituição onde se manterá até à sua morte em 1975.
O trabalho filosófico de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher.
A convicção de que tudo o que acontece no mundo deve ser compreensível pode levar-nos a interpretar a história por meio de lugares-comuns. Compreender não significa negar nos fatos o chocante, eliminar deles o inaudito, ou, ao explicar fenômenos, utilizar-se de analogias e generalidades que diminuam o impacto da realidade e o choque da experiência. Significa, antes de mais nada, examinar e suportar conscientemente o fardo que o nosso século colocou sobre nós – sem negar sua existência, nem vergar humildemente ao seu peso. Compreender significa, em suma, encarar a realidade sem preconceitos e com atenção, e resistir a ela – qualquer que seja. (Hannah Arendt Origens do Totalitarismo[1950]. Companhia das Letras, 1998, 3ª reimpressão, p.12. )

Distinguindo-se da informação correta e do conhecimento científico, a compreensão é um processo complexo, que jamais produz resultados inequívocos.Trata-se de uma atividade interminável, por meio da qual, em constante mudança e variação, aprendemos a lidar com nossa realidade, reconciliamo-nos com ela, isto é, tentamos nos sentir em casa no mundo.( Hannah Arendt Compreensão e política [1953] A Dignidade da Política. Relume- Dumará, 1993, 2ª edição, p.39. )
Simone de Beauvoir

Nasce em 1908 e morre em1986. Nasceu em Paris, primeira filha de uma família de situação econômica confortável.
Duas experiências marcam sua juventude: a leitura de Balzac, que a faz perceber que já não acredita em Deus e a intensa amizade com Elizabeth Mabille (Zazá), sua “única relação não livresca” de adolescência, que morreu jovem de um mal desconhecido. A ex periência da morte de Zazá impressiona profundamente Simone, e permite a descoberta do sentido do luto, da morte, do absurdo da vida. Elas haviam se inscrito juntas para a universidade de Sorbonne, onde Simone estudou matemática e filosofia e conheceu Jean-Paul Sarte (1905-1980) e Paul Nizan, entre outros que fariam parte do grupo de intelectuais franceses mais importantes após a Segunda Guerra Mundial.
Muito jovem já era uma leitora ávida e decidiu precocemente ser uma escritora. Orientou-se por este projeto e deixou vasta obra literária e filosófica, sendo que muitos dos seus textos são autobiográficos, como Memórias de uma Moça Bem Comportada (1958), A Força da Idade (1960), A força das Coisas (1963), Uma Morte muito Doce (1964), Balanço Final (1972) e A Cerimônia do Adeus (1981). Nestes textos, retoma e examina recorrentemente, os primeiros trinta e cinco anos de sua vida, examinando a fundo este período de sua vida e estabelecendo conexões sempre novas com suas experiências posteriores.
A vida adulta de Simone esteve marcada pelos acontecimentos culturais e políticos da época e decididamente vinculados à sua relação intelectual e afetiva com Sartre. Foi colaboradora assídua da revista Le Temps Modernes, fundada por ele e Maurício Merleau-Ponty em 1945, e nas décadas de 50 e 60 viajou pelo mundo debatendo sua produção filosófica e literária, bem como interagindo com vários grupos políticos e feministas. Por uma moral da Ambigüidade (1947) e O Segundo Sexo (1947), sua obra mais famosa, que tornaram-na um ícone da movimento feminista do
s anos 60 e 70, consolidam Simone como uma filósofa existencialista, que também utiliza os pressupostos fenomenológicos e do materialismo histórico para pensar o seu tempo.
Em 1970 escreve A Velhice, que retoma as análises de O Segundo Sexo para tratar do tema existencial do envelhecimento na perspectiva da mulher. Ganhou um prêmio literário por Os Mandarins (1954) e fez sucesso com a narrativa Todos os Homens são Mortais (1946) e A Convidada (1967).

Em 1957, escreveu A Grande Marcha, sobre a Revolução Chinesa, um estudo documental, crítico e problemático sobre a China após a revolução de 1949. Junto com Sartre, foi nomeada membro do Tribunal Russerl, o tribunal internacional encarregado de julgar os crimes cometidos pelos norte americanos e seus aliados na guerra do Vietnã.
Em 1968, polemizou sobre a invasão soviética à Tchecoslováquia e se uniu ao movimento estudantil do chamado maio francês. A partir dos anos 70, engajou-se ativamente nas ações do Movimento de Libertação das Mulheres, grupo feminista da “Segunda Onda” francês e participou com os dissidentes russos em ações de solidariedade em favor dos perseguidos por motivos ideológicos e políticos. Falece em 1986, seis anos após a morte de Sartre.
Simone Weil


Nasce em 1909e morre em1943. Nasceu em Paris, filha de uma família judia, mas não recebeu educação religiosa. Foi aluna do filósofo Alain [Émile August Chartier] de 1925 até 1928; em 1931 conseguiu a habilitação para ensinar filosofia na Escola Normal Superior. Durante alguns anos foi professora do instituto mas, seguindo seu impulso político e sua fé caritativa, decidiu fazer parte da classe operária: dividia seu salário com eles e se interessava por seus problemas humanos e sindicais. Renunciou ao ensino em 1934 e começou a trabalhar como simples operária. Em 1936, quando estourou a guerra civil espanhola, partiu para unir-se aos militantes antifranquistas impulsionada por um internacionalismo que comprometia os intelectuais, escritores e militantes de esquerda do mundo todo. Vítima de um acidente, viu-se obrigada a voltar. Dedicou-se, então, a viajar pela Itália, onde também visitou Assis. Em 1938, já iniciada sua “conversão” ao catolicismo, situou o problema religioso como o centro de seus interesses. Simone Weil nunca chegou a ser uma católica, mas buscou elevar-se em uma religiosidade essencial que brotava de suas intuições mais pessoais e profundas. Suas reflexões políticas e filosóficas, a partir da análise do marxismo e de sua experiência na fábrica, é uma crítica às idéias de poder, de estado e de burocracia, e uma análise do esvaziamento e da perversão da autoridade, ao mesmo tempo em que defende o trabalho como valor humano, um símbolo de humanidade e materialidade do homem e defronta-se com sua condição de alienação estrutural e metafísica. Daí surge a necessidade religiosa, ao resgate do caráter sagrado da experiência moral e das relações humanas e mundanas.
Sua contribuição filosófica política e moral, aliada ao seu percurso biográfico, revela uma das personalidades mais complexas e interessantes do século XX. Seus textos refletem e tematizam sua experiência e suas intuições, bem como seu percurso pelo marxismo até a religião como experiência iluminadora do sentido da ética. Reflexões sobre as causas da liberdade e da opressão social (1934); Reflexões sobre as origens do hitlerismo e A Ilíada, poema da força (1939); Deus em Platão (1940); Intuições pré-cristãs (1941-42); Apego. Prelúdio para uma declaração dos deveres para o ser humano (1942-43). Sua saúde debilitada ao longo dos anos a levou a morrer em agosto de 1943, no sanatório de Ashford, em Londres, onde ainda se dedicava a um último projeto político e de pesquisa.
Obras traduzidas:
A Condição Operária e Outros Estudos Sobre a Opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
A gravidade e a graça. São Paulo:ECE, 1986.
Espera de Deus. São Paulo:ECE, 1987.
Aulas de filosofia. Campinas, SP: Papirus, 1991.
Pensamentos desordenados acerca do amor a Deus. São Paulo:ECE, 1991.
O enraizamento. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
Opressão e liberdade. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
Ângela Davis


Nasceu em 1944 e permanece viva até hoje. Esta norte americana ficou internacionalmente conhecida na década de 70 como ativista radical do movimento político black power- as panteras negras.
Oradora brilhante, seus escritos mais populares em periódicos de divulgação da causa negra revelam habilidades analíticas sofisticadas. Sua persona pública está associada a elementos míticos de uma época em que o movimento estudantil alcançou proporções internacionais e o movimento negro alcançava uma dimensão política sem precedentes na trilha das reivindicações de Martin Luther King (também filósofo).
Poucos sabem Davis que teve formação filosófica acadêmica, foi aluna de Herbert Marcuse e fez seu doutorado na Alemanha, na Universidade de Frankfurt, estudando Kant, Hegel e Marx com Habermas e Adorno (que orientou sua tese), entre outros. Nos Estados Unidos, em sua graduação, havia estudado com Herbert Marcuse e há uma hipótese de que ele se refira a ela em seu Ensaio sobre a Liberação(1969) “ What are the people in a free society going to do? The answer which, I belive, strikes at the heart of the matter was given by a young black girl. She said: for the first time in our life, we shall be free to think about what we are going do.”
Interessava a Ângela Davis as ferramentas e os pressupostos da teoria crítica dos pensadores da Escola de Frankfurt, assim como interessava a ela sua própria realidade e o destino político da comunidade negra norte americana. E interessava-se por estes temas como mulher, negra, política e pensadora, não nesta ordem, mas de uma forma indissociável. É por isto que na filosofia vai debater os conceitos de liberdade e liberação, bem como reivindicar a reflexão sobre sexismo e racismo como temas teóricos relevantes, ao lado de classe e poder, do mesmo modo que na militância no movimento pela Liberação Negra americana, vai lutar para incluir a perspectiva de gênero.
Davis considera o racismo e o sexismo, junto com as classes sociais como os elementos que constituem os pilares do capitalismo. Ação e reflexão são dois aspectos inseparáveis de sua vida e obra, e seu trabalho enfocou três áreas: teoria crítica, teoria da liberação negra, teoria feminista. Seus escritos trazem um pensamento transformador para a reflexão filosófica no século XX, embora as questões que levantou ainda estão longe de serem superadas. Os títulos de alguns de seus trabalhos são: Lectures on Liberation (1971); Angela Davis: An Autobiography (1974); Women, Race & Class (1981); Meditations on the Legacy of Malcon X (1992); Afro Images: Politics, Fashion, and Nostalgia (1994); Black Women in Academy (1994) Na Essay on Liberation (1969) (conf. artigo Notorious Philosopher. The transformative life and work of Angela Davis, em: Linda Lopez McAlister, Hipatia’s Daugethers)
Comentários:
“À pergunta “existem mulheres filósofas?” pode-se responder que sim, tanto no passado quanto no presente, embora nossos currículos tradicionais ainda as ignorem. O entendimento do que é a filosofia, que subjaz como critério de apresentação das pensadoras, é bastante amplo para considerar que a reflexão filosófica interessa-se por tudo o que se refere à condição humana e gera pensamento reflexivo, discursivo, narrativo, ficcional ou poético, argumentativo, conceitual e criativo. Na história do pensamento filosófico, o interesse dos protagonistas pode concentraram-se mais em um ou outro campo das atividades humanas e da existência, mostrando o diálogo com a sua época e uma visão de mundo que enriquece a civilização (neste caso, a ocidental) e o próprio gênero literário. As mulheres pensadoras não são uma exceção: são apenas a parte esquecida de um processo histórico que selecionou e alimentou, privilegiadamente, a memória da vida e obra dos homens na filosofia. Se entendermos que o processo civilizatório é fruto do trabalho conjunto de mulheres e homens, está na hora de voltarmos o nosso olhar na direção das contribuições daquelas que foram esquecidas. Talvez esta virada revele dimensões da atividade filosófica passada que permitam a geração de novos sentidos e práticas na atividade filosófica, atual e futura.”
(Ana Míriam Wuensch- professora da Universidade de Brasília)
Observações finais:

É importante dizer que a partir do séc. XX , vem crescendo o número de filósofas. No texto é possível notar que as primeiras mulheres não tinham o título de filósofas, e mais ao fim do mesmo, elas começam a estudar a filosofia, e ganham o titulo de filósofas, escrevendo sobre o assunto e ... acho importante que continuemos a pesquisa por novas filósofas.
Bibliografia:

www.altavista.digital.com/imagem
http://www.google.com.br/
pt.wikipedia.org/wiki/Hildegarda_de_Bingen
pt.wikipedia.org/wiki
http://www.consciencia.org/forum/index.php/topic,169.0.html