quinta-feira, 31 de julho de 2008

Maria Zambrano


María Zambrano, filósofa e escritora espanhola, nasceu em Málaga em 1904 e faleceu em Madrid em 1991.
O pai, um catedrático, estabelece profunda amizade com o poeta Antonio Machado. Em 1924 conhece Ortega y Gasset que a introduz no meio cultural madrilenho, principalmente na tertúlia da Revista de Occidente. Completa o curso de Filosofia em 1927, onde estudou com Xavier Zubiri, García Morente e Ortega.
No período que antecede a guerra civil espanhola, sucedem-se uma série de atos públicos e de grande intervenção política como a criação da Liga de Educação Social, mais tarde assaltada e encerrada pela polícia. Em 1936 Maria Zambrano faz parte de um grupo de intelectuais que, com missões pedagógicas, iniciam uma nova experiência de educação popular. Percorrem povoados e aldeias remotas levando-lhes pela primeira vez o cinema, a pintura, o teatro e a música clássica.
Em janeiro de 1939 para um exílio de 45 anos, vivendo em Havana, México, Paris, Roma e Suíça, onde continuou seu trabalho como professora de filosofia até finalmente regressar a Madri em 1984. Morre em 1991, em meio a um enaltecimento de sua obra e de personalidade, tendo recebido vários prêmios.
A relação entre a filosofia e a poesia, o mito e a razão, a paixão e o intelecto, a obra e a ação, o papel dos intelectuais e o sentido da história parecem ser a principal preocupação de Maria Zambrano. Pode-se perceber as influências do pensamento ortegiano e heideggeriano em sua obra, mas seu estilo e escritura se impõem com uma marca própria. Propõe a superação do racionalismo através de uma “razão poética”, cujo exercício prático pode ser verificado em sua própria obra. Partindo de uma epoké fenomenológica de cunho místico – o silêncio que deixa falar as coisas - Zambrano segue a idéia heidegeriana de que a essência dominadora da razão ocidental, desde Platão até o idealismo alemão, construiu um logos desencarnado, desarraigado, que deprecia a vida, um espírito que nega o imediato para afirmar sua liberdade absoluta. Frente ao logos que que faz do homem contemporâneo um ser exilado e nihilista, Zambrano reclama uma razão poética que seja uma mediação para recuperar o contato com a terra, sem cair no irracionalismo. A influência de Jung em sua obra, evidente na própria terminologia (animus/anima), leva a filósofa a destacar a polaridade histórica dos sexos como o dualismo alma/feminina intelecto/masculino.
O tratamento que faz das figuras emblemáticas de Antígona e Diotima se encontra demarcado, portanto, na missão salvadora que acompanha a palavra feminina. Esta missão, entretanto, é o reverso da crítica que faz ao feminismo “nada é nem vale o moderno feminismo” (em : Eloisa ou a existência da mulher) já que, segundo Zambrano, este participa do racionalismo moderno que considera que deve ser superado. Talvez este aspecto tenha lhe valido o reconhecimento de pensadores como Cioran, que elogia a profundidade filosófica de Zambrano afirmando que “não vendeu sua alma à Idéia” e por isto não se tornou “presunçosa e agressiva” como toda mulher que se dedica à filosofia... (El País, 4.11.1979) OBS.: Em português, a Assírio e Alvim publicou, em 2000, a coletânea de textos A Metáfora do Coração e outros escritos.

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